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A Loja de cem anos - Por Raimundo Nonato Melo e Silva.

A Loja de cem anos


E eis que a velha UP se fez centenária. A Augusta Cruz da Perfeição Maçônica Respeitável Loja Simbólica União e Perseverança nº 947, jurisdicionada ao Grande Oriente do Brasil, terminologia não assim longa quanto meritória por que doravante atende, passou na exuberante sessão da última quarta-feira, 24 de janeiro, feriado de aniversário de nossa amada capital, à exemplar condição de loja maçônica secular.


Cento e cinquenta irmãos, se bem estimado, conferiram o augusto aniversário daquela Casa/Escola de Justeza e Perfeição, como a intitulou seu Orador inicial. O templo, cioso de comportar integralmente seus atenciosos membros e visitantes de pluralizados rincões do País, com homenagens trazidas dos Orientes de São Paulo e do Amazonas, verbis gratia, se fez alargar demasiado, alcançando os limites do salão amplo. Com irmãos sentados frente a frente, a poucos metros de distância, perfazendo um corredor extendido entre eles, assim improvisou-se, era preciso, o mais longo templo maçônico de Rondônia. Em si, já um espetáculo de ineditismo a justificar as muitas quadras nas imediações da loja apinhadas de veículos e de seguranças devidamente identificados com a camisa da instituição. Parecia – e era – um evento de homéricas proporções, apenas coroado com a serenidade e discrição maçônicas.


O professor Dante lançava também, como parte das homenagens, um livro contando a história vitoriosa e contributiva do progresso rondoniense e amazônico da UP. Proferiu breve arrazoado e se disse pronto a quem lhe buscasse um exemplar, o que se daria posteriormente, em sessão de autógrafos. Na obra, detalhes, fatos e minúcias de tanto trabalho e ações assim registrados história adentro, garantindo o protraimento infinito das possibilidades de alcance do conhecimento da saga e feitos de grandes homens, trabalhando a justeza e a perfeição nestas paragens. Sob os auspícios do Eterno Arquiteto e a égide dessa Casa de irmãos abnegados no bem e na evolução do País, cem anos de empenhados labor e estudos alcançaram termo, para seguir nova contagem agora com três algarismos, numa quase chuvosa noite de janeiro amazônico.


Uma centena de anos da primeira loja maçônica nestas terras de Rondon, entesourando virtudes e descortinando progresso. Sem dúvida, trajetória de exemplo e modelo para todos nós. Exemplo, pois em Rondônia não existem duas potências maçônicas, mas uma só Maçonaria, com um acordo de Garante de Amizade seguido e respeitado consoante os preceitos maçônicos, assim decretava o Eminente Grão Mestre Irmão Juraci Jorge da Silva no sábio discurso proferido, e todos no Estado podemos nos espelhar em muitas ações e aprendizados com tal postura exemplar; modelo, notadamente, pela afirmação de organização e abnegado apego às origens, que o irmão escritor deixou escapar ser praxe da União e Perseverança, confidenciando estarem seus registros desses cem anos “diga-se de passagem, impecavelmente arquivados” e, aditamos, ao acesso dos estudiosos e pesquisadores. Exemplificando e modelando, enfim, em inúmeros outros predicativos que aquela Oficina irradia aos quatro cantos, sempre com a fraternidade e serena disciplina esperada dos homens de bem.


O registro cuidadoso dos trabalhos, fatos e informações relevantes em uma loja maçônica e na potência, possibilitando vascolejar o pretérito como forma de otimizar o presente, é bandeira digna de se manter empunhada sempre. A história bem cuidada se afigura condicionante de almejado futuro promissor, com um passado conhecido que lhe ateste o crescimento pautado nos fatos legítimos, distanciando-se das paixões, que lobrigam no vácuo de um pretérito negligenciado, elementos de consistência para ações egoicas e vaidosas de que o bom maçom se mantém indene, cônscio de possuir no ontem sua própria origem e referência.


A coisa, é certo, precisa ainda melhorar muito, no geral. Se mitigamos a necessária leitura de nossos assuntos da Ordem, também o fazemos no tocante a escrevê-los, deixando exíguo conteúdo fático idôneo a ser perlustrado por nossos fatais sucessores, ávidos de saber maçônico, acrisolamento moral e correspondente patrimônio intelectual, inobstante os faustos e valorosos acontecimentos dignos de registro constantemente deixados aos rigores do tempo. O progresso efetivo neste campo beira o estanque. Isso, ouso, pode refletir contribuição para uma das causas prováveis do crescente depauperamento da maçonaria no mundo, tema relevante de que, a propósito, sói cuidarmos. O bom e organizado registro histórico e documental contribui diretamente para uma identidade, uma afirmação autêntica de controle de seus atos e gradativa linearidade de uma oficina. Em duas palavras, a supremacia do intelecto sobre o informal.


Não bastasse, restava saber ainda uma coisa, naquela noite inédita que abria, outrossim, os trabalhos maçônicos no Grande Oriente do Brasil em Rondônia, ainda com a presença ilustre do Poderoso Grão Mestre Geral, ladeando o tranquilo e experiente venerável. Ainda me faltava testemunhar uma sessão centenária em loja maçônica. Sequer considerava tal ideia por falta de oportunidade mesmo, aliada à completa ausência de motivo destacado para estar presente naquela solenidade e na capital, se não houvera adiado minhas férias antes, e não poderia fazer jus, honrosamente, ao informe do meu Sereníssimo acerca do evento. Nesse diapasão, o destino me teria afastado de qualquer chance de vir a saber por constatação e não por ouvir dizer, o que vêm a ser... bodas de jequitibá!


Encantou-me o título de chofre, com o nome de tal madeira nobre. Poético, musical. Força de resistência e beleza nas hostes rondonienses. E aplaudi mentalmente. Atrás do Dante e da professora Ieda Borzakov, amiga e sobrinha da Loja, pois seu pai fora maçom ali filiado, esclareceria.


A história inquieta, satisfaz. Acomodado em meu cantinho, segui reservado, onde me haviam acomodado de última hora, entre os convidados ilustres que iriam usar da palavra e realizar uma ou outra ação na solenidade, como apor um carimbo com o novo nome centenário da loja. Representantes do Governador, do Exército Brasileiro, Tribunal de Justiça Maçônico, Poderosa Assembleia de Deputados, presidente do Rito Escocês Antigo e Aceito do GOB e outros. Nem dei meu nome ao laborioso Mestre de Cerimônias, por mera discrição, anelando evitar inconvenientes, com a lista já pronta. A Academia Maçônica de Letras de Rondônia estava assim, serena e discretamente como convém aos escritores, presente da melhor forma. E segui observador, ante a placa honrosa entregue ao Venerável Mestre, intitulada - repito apenas a pretexto de memorizar e, confesso, pelo prazer em fazê-lo - Bodas de Jequitibá, com placas menores apostas em sua superfície aveludada de vermelho, deflagrando acentuados bom gosto e criatividade. Tudo perfeito.


Surge então um maçom que alcançou o invejado título de Augusta Cruz da Perfeição Maçônica. A surpresa se me afetou por um átimo, então. Entre uma honraria e outra homenagem, eis que um irmão é chamado por um mestre da loja para ser agraciado como tal, pelo tanto de anos que já contabilizava como maçom do Grande Oriente. E da loja UP, supus, pois o homenageante e ex-venerável mestre daquela Loja-mãe o tratou com flagrante e elevada estima, dando a transparecer fraternidade para até possíveis irmãos gêmeos.


Há essas dúvidas pequenas, nada excruciantes, na verdade tão sutis que você logo deixa para lá, tipo: ahn?! Mas... E segue a vida. Depois, se e quando alguém resgata o assunto corriqueira e desinteressadamente, torna até quase atraente o tema, justificador de duas palavras a respeito, com o que se compartilha em comentários e se lhe vislumbra algo contraditório, que faltou esclarecimento, mas ninguém vai atrás. Pois bem, nesse desiderato também contamos com a insondável argúcia e experiência dos grãos-mestres em socorro dos irmãos, cujos questionamentos, dizem os mais antigos, conseguem prever ou os auscultam no ar; e o eminente Irmão Juraci não se fez de rogado, apressando-se em deslindar que o nível de Augusta Cruz da Perfeição Maçônica alcança uma loja que atinge a idade de cem anos e que, de resto, a um irmão também lhe é possível aspirar a tal título, somente com um tempo de maçonaria longo mas plausível. Não cem anos: 40.


E, uma vez mais, como nas ocasiões em que nos pegamos revendo detidamente o texto de iniciação em loja, durante a solenidade, ou quando atingindo mais um grau filosófico, ouvindo as falas dos oficiais dos cargos, nos sobrevém não raro a suave e balsamizante constatação de que a boa e velha maçonaria, realmente, pensou em tudo.


Vida longa à Augusta Cruz da Perfeição Maçônica Respeitável Loja Simbólica União e Perseverança, jurisdicionada ao Grande Oriente do Brasil!

E os nossos efusivos parabéns!



Ir.´. Raimundo Nonato Melo e silva, Grau 33

Presidente da Academia Maçônica de Letras de Rondônia

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