“Carta da Luara: Eu sou Down e amo mais”. (alusiva ao Dia Internacional da Síndrome de Down, 21 de março)
“Em uma noite de inverno eu cheguei. Parei de crescer na barriga da mamãe porque quis. Disse, quero logo vir brincar. Quando nasci, meu Papai estava lá, e ele viu que eu tinha um rostinho lindo, mas que não fechava nos padrões. Como ele é Médico, diagnósticos vieram à sua cabeça rapidamente. Mas ele só pensava no Amor. Ele disse: -Papai tá aqui, amor! E uma paz chegou, quase não chorei. Que estranho! Já ouvi essa voz na barriga da mamãe! Eu nasci com a Síndrome de Down. Eles só vieram a confirmar cerca de 40 dias depois. Sei que deixei-os ansiosos no início. Mas só porque eu era diferente? E aos poucos, eu ensino o papai e a mamãe que cada um no mundo é diferente do outro.
Dia após dia faço eles perceberem que deficientes somos todos nós, cada um com uma ou várias deficiências e, dessa forma, não devemos julgar as deficiências alheias. E sim, melhorar. E eu mostro isso melhorando a cada dia. Surpreendo eles direto. Como sou deficiente e tenho menos ferramentas, eu as uso melhor, tenho que superar apenas a mim mesma. O que não consigo ou conseguirei fazer? Qual o problema disso? Você faz tudo o que quer e tem vontade? Realiza todos os seus sonhos? Não seria mais deficiente aquele que recebe todas as ferramentas de trabalho e não as utiliza ou as utiliza de forma errada ou para o mal?
Meu papai descobriu na Maçonaria que eu sou perfeita, porque eu tenho a Trissomia do Cromossomo do par 21, primeiro porque ao invés de 2 são 3 cromossomos e ainda porque ocorre no par de cromossomos 21 e 2 + 1 são 3 e ele sabe que esse número é perfeito. No Dia Internacional da Síndrome de Down, 21 de março, talvez não por acaso seja também no mês 3, nesse dia criado em homenagem à minha condição, sim condição e não doença, quero mostrar às pessoas que eu sou forte. Que apesar de eu ter mais compromissos do que a maioria das crianças, eu ter que ir no Fisioterapeuta, Fonoaudiólogo, Terapeuta Ocupacional, Psicólogo, Médico e Terapeuta de Integração Sensorial, eu mantenho a cabeça erguida e a coluna ereta, e apesar de dias ruins e cansativos, há dias em que eu vou apenas brincar com os terapeutas e, assim, já conquistei a todos.
Talvez uma dívida cármica tenha me colocado nessa condição, ou talvez o fato de eu ser assim, seja uma simples obra do acaso. Mas de qualquer forma eu já entendi que, nesse mundo triste, eu quero mais é ser feliz. As pessoas se perdem em seus compromissos, agendas, objetivos, sonhos pessoais, relacionamentos e esquecem do básico, que é ser feliz. Eu sou feliz. E gosto de distribuir essa felicidade. E amar, ah nisso eu sou Mestre!
Talvez eu não venha a ter o dom de ensinar como um Professor, um Mestre, ou talvez até tenha, mas eu já ensino a todos com meu exemplo. Garra, força, determinação e principalmente o Amor. Essas são as ferramentas que tenho e nelas confio. Aliás, confio também em meu papai e minha mamãe, meus familiares e meus titios da Maçonaria, que sei que me amam de forma incondicional.
Se eu pudesse deixar uma mensagem na data de hoje, eu diria: Amem e sejam felizes! O resto é só o andar da carruagem. E lembremo-nos sempre da fala de Jesus Cristo na cruz: Ainda hoje nos encontraremos no Paraíso!”
Porto Velho, 21 de março de 2018.
Uma inspiração de Edilberto Lima Falleiros, pai da Luara (nascida em 28/06/2017) e Mestre Maçom da B.L.S. de São João Nº 33 - Glomaron.